quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013


A triste sina dos nossos castanhais

 

 

APOCALIPSE NOW

                    (Apolonildo Britto)

 

Canta moto-serra um réquiem fatal!

Cai ferida de morte

A castanheira amiga.

Ouve-se no espaço o estrondo infernal.

É a mata que ruge,

É o lenho que queima

É a vida que arde

No afã do progresso!

É o espanto geral

Da natureza que agoniza.

Correm os bichos espavoridos,

Desmaiam os vegetais diante da fornalha

E até mesmo o homem que semeia o ódio,

Treme. Treme diante da sanha da mortalha.

E as castanheiras, tão nobres criaturas,

Vão sumindo devagar, devagarzinho:

Uma a uma como pétalas de rosa

Que o vento desfaz, perfumando o ar.

Do velório da Amazônia devastada e vazia,

Vazia de vida, vazia de amor...

 

A castanheira (árvore da família das Lecythidáceas) é uma das mais nobres e generosas das árvores da Amazônia. Seu belo porte, seu talhe esbelto, sua frondosa copa verdejante e seu delicioso fruto dão-lhe qualidades excepcionais, além de ser uma das maiores árvores da América do Sul, chegando a 50 metros de altura. A maioria das castanheiras pode chegar até à idade estimada entre 800 e 1.200 anos, produzindo ouriço (fruto) com aproximadamente um quilo, que pode conter até 24 sementes ou amêndoas também conhecidas como castanha-do-brasil, castanha-da-amazônia, castanha-do-maranhão, castanha-do-rio-negro, tocari, tururi, cari, juviá ou amendoeira-da-américa.

Essa espécie vegetal foi descrita pela primeira vez pelos cientistas Humboldt e Bompland, com 11 gêneros e 118 espécies. O naturalista Meiers identificou mais tarde duas de suas espécies na Amazônia: a Excelsa e Nobilis. Seu fruto é muito rico em gorduras e proteínas, considerada verdadeira “carne vegetal”, uma vez que a proteína de duas amêndoas equivale à de um ovo de galinha, além de prevenir cardiomiopatia e melhorar o sistema imunológico e possuir o selênio, mineral anticancerígeno e antioxidante. Além de selênio, a amêndoa possui cálcio, fósforo, magnésio, potássio, cobre e vitaminas A, B1, B2 e C, além de proteínas.

Conhecida internacionalmente como Brasil Nuts, por ser praticamente exclusiva do Brasil, em que pese a sua ocorrência na Bolívia e Peru, a castanha-do-pará tem ouriço de casca lenhosa, muito dura, contendo amêndoas graúdas envoltas por casca lenhosa fina, pouco resistente. O fruto é esférico, de 11cm a 14cm de diâmetro, com peso variável entre 700g e 1500g. É comestível, muito saborosa e de elevado valor alimentício.

A castanha-do-pará é muito usada para a confecção de confeitos, recheios, coberturas de bolos, além de doces diversos, óleo, farinha e outros semiprodutos. Quando fresca, fornece o leite para preparação de vários pratos típicos da cozinha amazônica, apreciada no mundo inteiro. As castanhas sem casca são obtidas quebrando-a manualmente e podem ser vendidas com ou sem película. Devido ao formato irregular, cerca de 10% dela se perdem, reduzindo em 40% o seu valor comercial, bem como parte da produção na forma de subprodutos, alternativa do aproveitamento desta matéria-prima de alto valor agro-industrial.

A floração da castanha-do-pará ocorre de dezembro a março, coincidindo com o período de maior índice pluviométrico das regiões extrativistas. A frutificação acontece o ano todo, mas é entre janeiro e março que ocorre a maior disseminação dos frutos, quando se intensifica a coleta ou safra finda em junho.

A espécie é considerada caducifólia, pois apresenta queda total das folhas. Estudos atestam que a floração acontece em mais da metade dos indivíduos da população, registrando alternância entre os anos com 80% dos indivíduos florescendo e frutificando, sendo que, desde 1992 há queda acentuada na produção dos frutos. Existe quem diga até que a castanha-do-pará corre risco de desaparecer, fenômeno não muito aceito pela maioria das instituições e cientistas que pesquisam o vegetal.

Pródiga em todos os sentidos, da castanha-do-pará tudo se aproveita: o ouriço serve como combustível ou para confecção de objetos, inclusive artesanal, mas o seu maior valor está na amêndoa, rico alimento em proteínas, lipídios e vitaminas, podendo ser consumida in natura ou beneficiada ou então usada para extração de óleos diversos; do resíduo da extração do óleo obtém-se torta ou farelo usado como mistura em farinhas ou rações; o leite de castanha é de grande valor na culinária regional. A castanha também possui boas propriedades industriais. É usada no fabrico de sabão e sabonete. A madeira é indicada para construção civil interna leve, tábuas para assoalhos e paredes, painéis decorativos, forros, fabricação de compensados e embalagens. Ainda serve na construção naval e é indicada para reflorestamento.

As amêndoas com casca podem ser vendidas desidratadas ou semidesidratadas ou ainda a granel. O consumo do produto é feito de forma in natura ou através de derivados como biscoitos, farinha, paçoca, óleos, doces, leite-de-castanha ou sorvete.

 A castanha-do-pará, que o brasileiro consome com mais freqüência nas festas de fim-de-ano, é recomendada pelos oncologistas que estudam a incidência do câncer em fumantes. Foi citada favoravelmente em trabalhos divulgados pela Associação Americana para Pesquisa sobre o Câncer (AACR), com medição da presença de selênio em mais de 120 mil homens e mulheres holandeses, incluindo 431 com câncer de bexiga.

O Laboratório de Nutrição-Mineral da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP constatou que a castanha-do-pará é um eficiente suplemento alimentar capaz de suprir a necessidade diária de selênio, mineral que evita a propagação do câncer e diminui sua incidência, prevenindo cardiomiopatias e melhorando o sistema imunológico. O selênio também atua no equilíbrio do hormônio ativo da tireóide, reduz a toxidade de metais pesados e age como antioxidante, protegendo o organismo contra os danos provocados pelos radicais livres.

A pesquisadora Silvia Cozzolino também recomenda que sejam ingeridos alimentos com maior concentração de selênio, como alimentos marinhos — peixes, moluscos, alimentos de origem animal — carnes e aves, e alguns cereais (o trigo) e, principalmente as nozes, em especial as castanhas-do-pará.

Histórico – O nome do pródigo vegetal tem sido recentemente polemizado por interesses ou ciúmes regionais, mas prevalece o de castanha-do-pará, adotado há séculos, quando a sua produção estendia-se por toda a então Província do Grão-Pará, hoje diluída pelos estados da Amazônia. As enciclopédias também grafam o produto como castanha-do-pará.

Houve época em que as lecitidáceas dominaram a economia e as exportações da Amazônia, em especial do Pará, Amazonas e Acre, onde, além de amenizar o colapso da produção da borracha, as safras anuais serviam de apoio à agricultura e pecuária ainda incipientes, mesmo quando os especuladores aviltavam os preços, vendiam mercadorias por valores exorbitantes e ainda enganavam os castanheiros na medida do produto. Em Marabá, por exemplo, há versões que havia três tipos de hectolitro (unidade de medida da castanha): o de comprar (maior), o de vender (evidentemente menor) e o de ser aferido pela fiscalização (o único metricamente correto).  

Sua importância econômica foi tamanha que gerou verdadeiros “barões da castanha”, como o poderoso coronel José Júlio de Andrade que se tornou senador vitalício pelo Pará, na antiga República, e amealhou milhões de hectares de terras na região dos rios Jari e Paru e foz do Xingu. Zé Júlio era senhor da vida e da morte nestas terras paraenses e ficou famoso pela prática da famigerada “política dos barracões”. Ele também é lembrado pelo temível “Paga Promessa”, local que serviu de túmulo a centenas de pobres trabalhadores na fazenda Arumanduba, sede do seu império na foz do rio Jari, próximo à cidade de Almeirim (PA).

Mais recentemente, a família Mutran dominou os castanhais do Município de Marabá, no sul do Pará, o mesmo acontecendo com outras oligarquias dos estados do Acre, Amazonas, Rondônia e oeste do Pará. Durante décadas, concessões de vastas áreas de terras devolutas de castanhais serviram de barganha política na Amazônia, mantendo o status quo e gerando os conhecidos “coronéis de barranco” que se mantiveram no poder até há bem pouco tempo, quando a produção decaiu com a chegada dos tratores e moto-serras à região, além de outros fatores de ordem econômica. 

Na verdade, o extrativismo da castanha conseguiu sobreviver a vários ciclos econômicos, inclusive ao da borracha, gerando latifúndios, fortunas e poder a poucos privilegiados que usufruíram deste então promissor mercado em detrimento de gerações de castanheiros sempre miseráveis e sofridos. Nos primórdios, depois de contratados e “aviados”, os castanheiros eram levados ao longo dos rios e igarapés da floresta amazônica, onde ficavam de dois a três homens, conforme a densidade do castanhal. Construíam o seu tapiri e se embrenhavam mata adentro com seus parceiros, para a coleta do fruto, até que chegavam, em prazo combinado, quando uma ou mais embarcações vinham para a coleta da castanha cortada e desciam o rio com o produto, empurradas por varas, forquilhas e ganchos até aos portos de embarques.

Com o tempo e o desenvolvimento da indústria da castanha, a demanda aumentou, multiplicando-se o número de homens na sua coleta, os quais foram penetrando nas matas até a um ponto em que se tornou impossível o transporte nas costas dos castanheiros. Daí apareceu o transporte em tropas de burros, o que permitiu a ampliação da produção com menor esforço do castanheiro. Mesmo assim, sua vida não mudou, posto que sempre ficar preso à política dos barracões.

Contudo, os projetos agropecuários e madeireiros no Acre, Pará e Rondônia foram devastadores para os imensos castanhais da região. A principal razão do declínio da produção da castanha-do-pará é a queimada, pois a fumaça que permanece durante semanas rente ao solo prejudica a floração normal das castanheiras e também a produção dos besouros e abelhas que fazem a polinização das flores. Uma última razão é o simples envelhecimento ou o abate de castanheiras. Para se ter uma idéia dos abates, no outrora chamado Polígono dos Castanhais, no sul do Pará, hoje a paisagem é de pastagem e tomada por colonos e fazendeiros que disseminaram queimadas e desmatamentos sem precedentes, transformando-o em “cemitério de castanheiras”.

Apesar do seu declínio, a castanha ainda ocupa lugar de destaque na pauta das exportações de produtos da floresta amazônica, mas isto não esconde o fato de que a produção cai a cada ano e dá agora a primazia da exportação mundial do produto à Bolívia.

 

Políticas Sustentáveis

 

A revista científica Science inclui outras ameaças à castanha-do-pará, como a coleta excessiva nas florestas, que geram poucas novas árvores e comprometem o futuro da espécie. A revista estudou 23 grupos de castanheiras na floresta amazônica, no Brasil, Bolívia e Peru, onde existem poucas árvores jovens, o que sugere que o ciclo de renovação da espécie foi interrompido pela exploração intensiva dos castanhais, mas recomenda o uso do manejo sustentável para evitar o colapso a longo prazo.

A publicação diz ainda que as plantas originárias de viveiros ou sementes germinadas a partir do processo natural de dispersão, demorariam várias décadas até que pudessem substituir árvores que hoje são velhas e que caracterizam os castanhais persistentes explorados. Mas ressalva que pesquisas do melhoramento genético e germinação, que estão à procura de variedades mais precoces e técnicas mais aprimoradas de manejo e cultivo desta espécie, podem apresentar alternativas.

O pesquisador e fotógrafo David Mangurian diz que uma das formas de preservar as florestas tropicais é colocar no mercado os produtos que são naturais delas, gerando assim renda e empregos para os moradores locais e reduzindo o incentivo para cortar árvores. Nesta direção, discute-se ainda o manejo sustentável da produção da castanha, através de cooperativas e associações extrativistas nas regiões produtoras.

A agregação de valor a esse fruto e sua utilização sem a devastação da floresta têm sido tema e sonho de todo brasileiro que realmente se importa com o maior patrimônio: a Amazônia. Desde 1965, durante na sua primeira gestão como governador do Amapá, o hoje senador João Alberto Capiberibe defende o equilíbrio entre produção e preservação, tendo como eixo principal o desenvolvimento de atividades econômicas florestais madeireiras e não-madeireiras a partir de organização de cooperativas de castanheiros, para industrializar e transformar a castanha em óleos, farinhas e biscoitos.

Quando governador, Capiberibe criou a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru, no oeste do Amapá, região do rio Jari, onde instalou fábrica e outras dependências de beneficiamento de castanha financiadas pelo Fundo Francês de Desenvolvimento e pelo PPG-7, além de fábrica móvel que pertence ao Sebrae-AP. A empresa Tahuamanu explora há cinco anos, com êxito, na Amazônia boliviana perto da cidade de Cobija, uma invenção para tirar automaticamente a casca da castanha-do-pará, criando um negócio próspero e sustentável, além de uma importante fonte de emprego. A empresa emprega hoje quase 300 pessoas em sua usina de beneficiamento e proporciona emprego sazonal a outras 800, que colhem as castanhas quando amadurecem e caem das altas árvores no meio da floresta durante a estação das chuvas.

 

A Política dos Barracões – O castanheiro, extrator ou catador da castanha-do-pará não era diferente de qualquer outro trabalhador extrativista regional. Sua sina segue a mesma linha de árduo trabalho, exploração, sofrimento e abandono dos balateiros, seringueiros e demais extrativistas vegetais, vítimas da “política dos barracões” e escravos do acerto de contas de preços vis dos patrões, donos dos castanhais.  O aviamento – um paneiro, um facão, um machado, uma espingarda e munições, além de produtos alimentícios como farinha, açúcar, sal e café, creditados com preços astronômicos , alem de alguns trocados em dinheiro, que era geralmente gasto na cidade com superfalos e bebedeiras, alias uma espécie de cativeiro sempre preso pelo debito que se arrastavam anos após anos.

Um bom castanheiro conseguia quebrar até cinco hectolitros diários, com os ouriços amontoados à espera das tropas de burros. E, enquanto o castanheiro cortava a castanha, continuava a queda de mais ouriços, permitindo a repetição do mesmo processo. Mas quando a colocação era considerada vazia, ele a deixava, procurando outro local para trabalhar. Havia castanheiro que numa safra conseguia produzir mais de duzentos hectolitros. Era uma ótima produção, considerada excepcional.

O tropeiro transportava mais de mil hectolitros por safra, sendo considerado como um eleito nos castanhais, homens de confiança dos patrões e encarregados, muitas vezes com tarefas de pressionar os castanheiros que quebrassem as regras do castanhal, uma espécie de política.

Quanto aos sistemas de produção, pode-se dizer que formava uma cadeia com o exportador de Belém Manaus numa das pontas e o castanheiro formando a outra, passando pelo comprador de Marabá e o proprietário do castanhal. Embora com manifestas imperfeições, o processo funcionou a contento por muitos anos.

Por muitas vezes a brusca queda do produto ou safra frustrada acarretava prejuízo na cadeia toda, com maior dano para o proprietário do castanhal e, principalmente para o castanheiro. Hoje em dia a indústria e a exportação da castanheira entraram em declínio. A mão-de-obra torno difícil com o advento dos garimpos de ouro, não querendo mais os homens trabalhar por preço aviltantes.

A outra razão do declínio, talvez a mais importante, é que as safras diminuindo de forma alarmante, podendo-se dizer que estão a menor de uma quarta parte do que eram no tempo do seu apogeu. Entre as várias razões apontadas, uma é o envelhecimento dos castanhais, já que a coleta intensiva não permite a brotação de novas castanheiras, sendo que os poucos ouriços que saem do paneiro ou do facão são avidamente disputados pelas cutias.

Motivos também citado para declínio da produção da castanha é a de que as contínuas queimadas, com fumaças que ficam semanas e semanas rentes ao solo, prejudicam a floração normal das castanheiras e também a produção dos besouros e abelhas, que fazem a polinização das flores.Uma última razão é o simples abate de castanheiras.

Houve época em que a castanha-do-pará dominou a economia e as exportações da Amazônia, em especial no Sul do Pará, Amazonas e Acre, onde, além de suprir colapso da produção da borracha, suas safras anuais serviam de apoio à agricultura e pecuária ainda incipientes nessas áreas, mesmo quando os especuladores aviltavam os preços.

O nome do pródigo vegetal tem sido recentemente polemizado por interesses ou ciúmes regionais, mas prevalece o de castanha-do-pará para todos os efeitos, porque adotado há séculos, quando sua região produtora estendia-se por toda a então Província do Grão-Pará, hoje diluída pelos estados da Amazônia.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013


Parque Nacional do Jaú e

Estação Ecológica de Anavilhanas

Não há quem não se encante ao conhecer o Rio Negro, seus tributários e florestas. Talvez seu aspecto mais impressionante seja a interface entre as florestas e as águas pretas dos rios, conhecido como igapós. Imensas áreas de inundação, com variações que podem superar 6 metros, permitem que em boa parte do ano seja possível passear de canoa em meio às copas das árvores. Além disso, inúmeras ilhas, canais e lagos representam uma das características mais marcantes. Apesar de sua imponência a região demonstra incrível fragilidade frente às interferências humanas. Para protegê-la o Ibama conta com duas das mais importantes unidades de conservação do país: o Parque Nacional do Jaú e a Estação Ecológica de Anavilhanas.

A preocupação e reconhecimento não apenas se restringem em nível nacional. Em julho, a Unesco considerou as duas unidades de conservação federais do Rio Negro, juntamente com as Reservas de Desenvolvimento Sustentável de Amanã  e Mamirauá, do Governo do Amazonas, situadas no Solimões, como Sítio do Patrimônio Natural da Humanidade com o nome Complexo de Conservação da Amazônia Central. Para obter o título, o sítio deve basicamente apresentar enorme riqueza em biodiversidade, ótimo estado de conservação e valor estético singular.

Os patrimônios naturais no Brasil compreendem também o Parque Nacional do Iguaçu (PR), a Reserva da Mata Atlântica do Sudeste (SP e PR) a Reserva da Mata Atlântica do Descobrimento (BA e ES), o Parque Nacional da Serra da Capivara (PI) e o Pantanal (MT e MS). Portanto o Complexo de Conservação da Amazônia é o primeiro e atualmente único sítio da nossa Região.

O Parque Nacional do Jaú, desde 2.000, faz parte da lista do Patrimônio Mundial. Criado em 1980, com seus 2 milhões e 272 mil hectares o Parque foi uma proposição de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, que ficaram impressionados com suas riquezas biológicas e belezas cênicas. Sua peculiaridade deve-se ao fato de proteger totalmente a bacia de um rio extenso e volumoso, com cerca de 400 km de extensão, o Rio Jaú. Sua denominação vem de um dos maiores peixes brasileiros de água doce.  Esta unidade de conservação também chama a atenção do ponto de vista arqueológico. Foi um dos principais pólos de colonização da Amazônia, pelos indígenas, marcado por batalhas pela posse do território. É possível verificar fragmentos de cerâmicas e pretoglifos de figuras humanas e animais, datados de mais de 800 anos.

As grandes áreas de inundação do Jaú impressionam, sendo impossível delimitar o que pertence ao reino das águas e da floresta, pois os dois se integram e não podem ser dimensionados separadamente. Nestas porções é possível avistar o uacari-preto, um primata endêmico do Rio Negro que divide a mesma árvore da floresta inundada com camarões de água doce e o jacaré-açu, um gigante que pode atingir mais de 6 metros de comprimento. Em meio às corredeiras do Rio Jaú e seus afluentes, é possível avistar ariranhas, a maior espécie de lontra do mundo e uma diversidade de aves aquáticas que na época da piracema se banqueteiam dos peixes que buscam locais de reprodução. É possível também avistar os tuiuiús e colhereiros típicos do Pantanal que migram atrás desta abundância.

A unidade de conservação dista cerca de 220 km de Manaus, entre os municípios de Novo Airão e Barcelos. Seu acesso de dá somente por barco ou hidroavião. A viagem em barco regional leva cerca de 18 horas de Manaus ou 6 horas de Novo Airão, cidade mais próxima e que é interligada à capital por estrada.

Através de parceria com a Fundação Vitória Amazônica várias pesquisas científicas têm sido feitas no parque. Delas resultam importantes resultados que podem inclusive subsidiar o uso sustentável de recursos naturais pelas populações de toda a região.

A Estação Ecológica destina-se a proteger as mais de 400 ilhas do arquipélago de Anavilhanas, considerado um dos maiores do mundo. Localizada a pouco mais de 40 km da confluência do Rio Negro e Solimões, onde há o famoso encontro das águas, a Estação Ecológica criada em 1981 estende-se por um território de 350 mil hectares, abrangendo os municípios de Manaus e Novo Airão.  Diversas e interessantes formações vegetais podem ser encontradas como a caatinga-gapó e as campinaranas, além das florestas de terra firme. Várias praias se formam no Verão, o que enriquece mais a paisagem do labirinto formado pelos canais e ilhas. Os botos são uma atração à parte aos visitantes. Antiga área de caça do peixe-boi, hoje a estação proporciona proteção a este que é um dos mamíferos mais ameaçados da Amazônia, que inclusive é festejado na cidade Novo Airão em uma manifestação ecológica realizada anualmente. Apesar das restrições da Estação Ecológica, o turismo direcionado à educação ambiental pode ser desenvolvido na região. 

O título de Patrimônio Natural da Humanidade não pode ser visto apenas como um prêmio, mas como uma grande responsabilidade. A realidade amazônica não comporta visões que separem o ser humano do meio ambiente natural. Na medida que o homem proporciona proteção, a natureza o retribui com sua abundância. Esta lógica inegável une intimamente o caboclo, a floresta e o rio, percepção que o Ibama do Amazonas tem priorizado e inserido como novo enfoque às unidades de conservação.

Além da contribuição como estoques aos recursos de subsistência para as populações locais, as unidades de conservação devem também contribuir para o processo de inclusão social, como por exemplo a atração do turismo responsável e participativo e pesquisas de bases sustentáveis. O reconhecimento como sítio  do Patrimônio Mundial é portanto marco importante no fortalecimento do processo de conservação da região.

Clima - Constantemente úmido (florestas tropicais). A temperatura média anual varia em torno de 26 C° e 26,7 C°, com máximas de 31,4 e 31,7C° e as mínimas entre 22 C° e 23 C°. O período chuvoso vai de dezembro a abril e o menos chuvoso entre julho e setembro.

O que ver a fazer - O Parque conta com a exuberância da floresta amazônica e toda sua biodiversidade de flora e fauna. Turismo de visitação ao rio Carabinani em pequena escala.

Relevo - O relevo da unidade apresenta quatro formas distintas: áreas de acumulação inundáveis, áreas de planícies, colinas e interflúvios tabulares.

Vegetação - O parque é representado por um maciço de vegetação, sendo composto por floresta densa tropical ou florestas abertas e por campinaranas arbóreas, densas, abertas ou arbustivas.

            Fauna - Estudos isolados revelam uma grande diversidade de espécies de peixes, quelônios, anfíbios, lagartos, serpentes e mamíferos. Entre as espécies ameaçadas , destacam-se jacaretinga, tartaruga da amazônia, tracajá, jacaré-açu, gavião real, uacari-preto, ariranha, gato maracajá e onça pintada.

Planejamento - A unidade possui Plano de Manejo eloborado em maio de 1998 e Plano de Ação Emergencial elaborado em agosto de 1995.

Infra-estrutura - A unidade possui dois alojamentos flutuantes (8 cômodos); uma casa de madeira; uma lancha, seis canoas; seis motores de popa; dois botes; uma Toyota; automóveis, uma balsa flutuante; material de escritório; equipamento de audio e vídeo; um rádio transmissor e um atracadouro. 

Questão Fundiária da Unidade - A Unidade está totalmente regularizada devido à questões administrativas, o Governo ainda não indenizou as 58 famílias residentes no interior do Parque. A unidade possui 98,3% de sua área total regularizada.

 

A Amazônia é uma jóia

Madeiras, caroços, frutas, flores, couros, escamas de peixes – heranças maravilhosas de um passado de índios, portugueses, africanos, que dão, hoje, a cara das jóias da região.

  

A Amazônia não é apenas rica em recursos naturais, belezas paisagísticas, biodiversidade e etnias exóticas e bonitas. O talento e a criatividade de seu povo também é a marca registrada da região. Quando Pizón e Pedro Teixeira a percorreram pela primeira vez, depararam com uma civilização primitiva de cultura surpreendente, avançada até certo ponto, cujo artesanato e adereços chamaram a atenção dos ilustres visitantes. Pizón chegou a comparar os índios da região recém-descoberta com as legendárias Amazonas, o que motivou o nome da Amazônia.

Poucas civilizações sabem usar tão bem os recursos naturas para ornamentar o corpo como a dos índios brasileiros. Eles sempre foram mestres da pintura corporal, exímios designers e artesões dos produtos da natureza, os transformando em objeto de adorno, ornamento, adereços (colar, brincos, broche, pulseira, etc.), para valorizar seus semelhantes e indumentárias.

Até hoje a civilização moderna admira e valoriza o design da bijuteria indígena e o adotou como a nova tendência da indústria joalheira, buscando na floresta inspiração e insumos. O atual artesão brasileiro teve o talento capaz de reverter o produto-design em belas jóia, que atualmente valorizam a natureza e abandonaram o design com vista exclusiva para o mercado externo. A exposição Jóia Brasil, um dos focos interessantes do Fashion Rio, no Museu de Arte Moderna, reúne designers de diversas linhas e exibe temas que mostram um Brasil da joalheria nacional, que se despediu há muito dos modelos feitos para turistas.

Na área de artesanato estão prevalecendo as bio-jóias e bijuterias ecológicas, com designers exclusivos a partir de produtos naturais, como contas nativas da região amazônica. O novo design procura associar a leveza de fibras vegetais, sementes de árvores nativas e outros produtos naturais que externam a variedade, a assincromia, a diversidade de formas e texturas inerentes a tudo que possa significar Brasil, com pedras e metais preciosos brasileiros que expressam toda a riqueza de cores do país.

O caroço de tucumã, por exemplo, serviu de inspiração para o empresário amapaense Sidney Vieira, que entrou no mercado de bijuteria com um novo conceito de design. Hoje ele produz todos os tipos de peças como braceletes, brincos, anéis, pingentes e até mesmo pulseiras de relógio, com produtos naturais. Além do tucumã, usa também como matéria-prima a casca do coco, inajá, semente de açaí e restos de madeira. Para dar uma maior resistência aos produtos, o designer usa, em algumas de suas peças, ouro e prata. Mas adianta que o uso é o mínimo, "somente para dar um toque a mais na peça”, diz.

Sidney foi um dos primeiros a usar as sementes de plantas nativas para a confecção de jóias.

Jóia Nativa – Outra pioneira é a amazonense Rita Possi, uma das primeiras no Brasil a misturar elementos tradicionais da joalheria (ouro e prata) e matérias alternativos, antes usados apenas em bijuterias, como palha, sementes e couro de peixe. Ela ficou muito conhecida no Brasil e até no exterior pela revolução que provocou no conceito da joalheria nacional. Iniciou a carreira como vendedora de jóias, passando a modificá-las com o tempo para agradar clientes. A novidade foi bem aceita e Rita começou misturar espécies nativas com produtos tradicionais em seu artesanato.

Uma de suas jóias foi levada aos Estados Unidos onde fez sucesso. Era uma peça feita de palha de arumã com sementes de açaí e uns pingentes de ouro em forma de canoinha, reminho e tartaruga.  Foi o ponto de partida para que começasse a pesquisar as matérias-primas da Amazônia e desenvolvesse técnicas para misturá-las.

Rita logo fez sucesso com o novo design na exposição que denominou “Brilho Amazônico”, levada ao Rio e São Paulo, usando peças de cestarias indígenas, gotas de coral, caroço de açaí, jarina (marfim vegetal da Amazônia que substitui ao do elefante), tucumã, babaçu, madeira de pupunheira, couro de peixe, paixiubão, palha de arumã, além de ouro, prata e pedras brasileiras em geral. 

Sua última coleção, lançada na Jóia Nativa para o Dia das Mães, foi inspirada na índia Sateré-Mawé chamada Moy, que significa cobra mansa. A indiazinha é bonita, amorosa e, apesar de só ter 20 anos de idade, possui quatro filhos e pretende ter muitos mais, porque tem consciência que sua tribo está em vias de extinção. A coleção pretende resgatar valores indígenas e sua peça principal – um colar de ouro com tucumã, que representa uma cobra – em referencia a Moy, porque ela protege a tribo como uma cobra-grande, ensejando o seu grande amor pela tribo, sem esquecer de ser sedutora.

Original products – As jóias de Junia Machado são pequenas obras de arte. Confeccionadas em ouro, pedras brasileiras e madeiras como jacarandá, braúna, imbuia, sândalo e coco-de-piaçava, vêm fazendo cada vez mais sucesso no Rio de Janeiro. “Finalmente a brasileira está usando sem preconceito os materiais daqui, antes só apreciados por turistas europeus e americanos”, diz a designer.

No Estado do Amazonas, Rosana Trilha, proprietária e design da Native Original Products, destaque em trabalhos publicados nas revistas Isto É, Exame e Casa Cor, enfatiza que todo artesanato enquadrado naquilo que a Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Ficapi), entidade instituída pela Federação e Centro das Indústrias do Estado do Amazonas, classifica Design Tropical, resgata tudo que a natureza oferece. “Temos uma enorme biodiversidade na Amazônia e somos ricos por natureza”, ressalta.

Segundo ela, tudo o que os artesões estão fazendo na realidade é um resgate. Mostram, como vitrine, através das jóias, tudo o que a natureza oferece, seja de resíduos, madeira e sementes, como a de queto e o marfim vegetal (jarina), que é uma palmeira rica na região (hoje somente encontrada na Amazônia, já que o Equador não faz reflorestamento da planta).

Rozana afirma, que muitas peças que hoje enriquecem a industria joalheira são resíduos florestais que se está jogado fora e que é reaproveitado para confeccionar belas jóias. Cita que um dos colares, o “Encontro das Águas”, que expõe na loja “Nativa”, situada numa das alas recém-restaurada do Porto de Manaus, é feito da saboarana e amapá (árvore). “A expressão pretendida em relação à jóia era que ela desse uma idéia de movimento, como se colar fosse uma onda, destacando inclusive duas colorações diferentes como a do encontro das águas”, explica a design.

Destaca também outra jóia feita com dois tipos de madeiras diferentes: cor amarelo cetim e violeta, o chamado roxinho, acompanhadas de ouro ou prata. Um colar semelhante foi presenteado à primeira-dama do país, dona Mariza, quando esta visitou o Estado do Amazonas, durante o Festival Folclórico de Parintins. A jóia é das cores amarelo-cetim e violeta, só que de outro tipo de madeira, mais escura, chamada “Coração de Negro”, com marfim vegetal (Jarina) e ouro, no mesmo design.

Ressalta  anda, que o mercado de jóias para o turista internacional é atualmente eficaz e promissor como o primeiro produto lá fora. Aliás, os produtos brasileiros que chamam mais a atenção na exterior são as jóias, em especial aquelas com propostas inovadoras e design contemporâneos, aproveitando os recursos naturais alternativos, que causam maior aceitação pelo material utilizado. Produtos naturais utilizados no artesanato (todos devidamente testados quanto a duração e resistência para ser aplicado à joalheria):

Arumã – Palmeira nativa da Amazônia onde o fio tecido dos filetes do talo de arumã é feito pelas índias da aldeia Waimiri-Atroari, e já é patenteado por esta tribo. Este fio é usado nas cestarias, utensílios, ornamentos corporais, armas etc.. O fio de arumã é altamente resistente, onde os indígenas usavam enroladas no pulso contra o impacto da corda do arco ou como enfeite corporal.

Esta fibra é adquirida diretamente dos Waimiri-atroari e conseqüentemente Rita Prossi trabalha um desegn para transformar em jóia, agregando pedras e metais preciosos. A fibra em si já é uma arte sem igual preciosa a um trabalho de arte com esta fibra por esta tribo.

Tucumã – Palmeira nativa da Amazônia ocorrendo em toda esta área, porém esta palmeira existe em várias espécies onde se diferencia pelo formado do caroço. Altamente resistente com alto teor de dureza, as peças de tucumã são indiscultivelmente um aliado muito especial para confecção de Jóias, pois chega a ser tão resistente quanto um metal. Pela diversidade de tamanho dos caroços, existe uma variada aplicação no design de Jóias. Os anéis de tucumã com polimento natural e agregado a pedra preciosas e natural são de beleza única.

Estes anéis também são fornecidos pelas tribos dos Satarê-olawé, respeitando o pricípio das parcerias com os índiginas da nossa região.

Babaçu – O babaçu é outra palmeira que do côco se pode também fazer jóias, uma vez que, não chega ser tão duro quando o tucumã, sua aplicação e mais fácil, pois se consegue vários tipos de corte para peças, alem de ser bem maior o caroço. O Babaçu se  difere do tucumã pela cor também, com o polimento o tucumã adquiri uma cor marrom bem definida não tão intensa.

Jarina – É o nosso marfim vegetal de alta resistência e dureza chegando a ser comparada a uma pedra. Hoje em dia a jarina está sendo super valorizada na Europa pala sua aplicação na industria relojoeira, substituindo o marfim animal. Sua cor vão ao branco ao bege de acordo com a idade da semente. Quando se agrega pedras e vegetais preciosos a Jarina, dificilmente distinguem que se trata de uma semente.   

Tucum – Fio de tucum é uma espécie de linha que os índios tercem de linha que os índios tecer para fazerem redes, cipós etc. Este fio é feito com  fibras da palha do buriti. Este fio quando aplicado a arte Wacrawe se transforma num trabalho único artesanal, também pode ser aplicado a industria de jóias. A fibra de tucum é utilizada pelas industrias do alto Rio Negro para fazer as embalagens para as Jóias.
Tiririca – É uma semente muito pequena, como se fosse uma miçanca natural, é a semente de um mato, suas folhas possui licebo cortante, os pássaros se alimentam desta semente, também pode servir de enfeite para peças em prata

Plano de Ecoturismo define ações no Amazonas

 

No Amazonas tudo soa grande, genuinamente amazônico. Rios amplos e caudalosos, cujas margens nem se permitem enxergar. Ilhas incontáveis, paisagens naturais diversificadas, lagos igarapés e cachoeiras. A vida selvagem ao alcance da mão na maior área protegida do mundo.
 


Voltado para essa realidade, o Amazonas já tem um Plano de Desenvolvimento de Ecoturismo para o Estado. O Plano foi apresentando oficialmente durante a solenidade de instalação do Conselho Estadual de Turismo do Amazonas. O Plano de Desenvolvimento de Ecoturismo no Amazonas foi elaborado pela Amazônia Consultoria e Assessoria Ltda e envolve os 14 municípios que fazem parte do Estado. O estudo tem como objetivo definir as ações, orientar a tomada de decisões e estabelecer as prioridades de investimentos para o seguimento.

O trabalho está dividido em quatro volumes – Constextualização Global do Pólo de Ecoturismo no Estado do Amazonas; Diagnóstico e Estratégias Municipais para o Desenvolvimento do Pólo de Ecoturismo do Estado; Estudo Econômico e Roteiros Ecoturísticos e Modelos de Gestão; Diretrizes e Estratégias para o Desenvolvimento do Pólo de Ecoturismo no Estado.

Ecourismo – O Amazonas, o mais extenso Estado da Amazônia brasileira, possui uma área de 1.57 milhões de quilômetros quadrados, tem nas águas de seus rios, na pluralidade de paisagens naturais e na biodiversidade seus grandes atrativos ecoturísticos. É pioneiro na instalação de empreendimentos hoteleiros no meio da floresta – os chamados ecolodges, ou hotéis de selva – modalidade turística que levou o Amazonas a ser eleito pelo governo federal como o Estado Referência para o Ecoturismo no Brasil.

Tendo como portão de entrada a capital Manaus, são 14 os municípios selecionados pelo Amazonas para compor seu pólo ecoturístico. Além de Manaus, estão inseridos no pólo Autazes, Barcelos, Careiro, Careiro da Várzea, Iranduba, Manacapuru, Novo Airão, Itacoatiara, Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva, Silves, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira. A maior parte desses municípios está concentrada nas margens dos três maiores rios da Amazônia: o Negro, o Solimões e o próprio Amazonas.

O pólo amazonense tem também como marca uma grande concentração de unidades de conservação formando a maior área protegida do planeta (5,7 milhões de hectares), como o Parque Estadual do Rio Negro, a Reserva Ecológica Sauim-Castanheira, a Estação Ecológica das de Anavilhanas e o Parque Nacional do Jaú, transformado no Patrimônio Natural da Humanidade – formando uma das maiores áreas protegidas de florestas tropicais do mundo.

A cerca de 10 km d e Manaus, ocorre um dos grandes espetáculos naturais da Amazônia: o encontro das águas escuras do rio Negro com as águas barrentas do Solimões, que fluem por cerca de sete quilômetros antes de se misturarem, onde a observação de aves e botos é são atrativos adicionais.

Ainda próximo a capital, rio Negro acima, está o arquipélago de Anavilhanas, um paraíso para biólogos e ecologistas, composto por cerca de 400 ilhas, centenas de lagos e igarapés, ricos em espécies animais e vegetais. É considerado um paraíso para conservacionistas. O regime de cheia do rio condiciona a vida selvagem no arquipélago: durante as cheias, de novembro a abril a julho, apenas metade das ilhas ficam visíveis, se transformando em refúgios para a vida animal. Quando as águas baixam, as ilhas submersas reaparecem e, com elas, volta à cena uma imensa variedade de animais, facilmente observáveis.

Banhados pelo rio Negro, Novo Airão e Barcelos têm em comum parte de seu território ocupado pelo Parque Nacional do Jaú e a histórica ruína de Airão Velho resquício dos primórdios da ocupação européia na região. Seus inúmeros igarapés e lagos, que formam paisagens idílicas e singulares, e suas festas religiosas são atrativos extras. Ainda em Barcelos, encontramos a maior cachoeira do Brasil – na Serra do Araçá – com 396 m de salto e o maior arquipélago fluvial do mundo – Mariuá, com 1.700 ilhas.Também banhados pelo rio Negro, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira são os municípios mais distantes da capital, os quais abrangem em seus territórios e estão próximos ao Parque Nacional do Pico da Neblina, onde estão os dois pontos mais elevados do território brasileiro – o próprio Pico da Neblina e o Pico 31 de Março.

Os municípios de Autazes, Careiro, Rio Preto da Eva e Presidente Figueiredo são os únicos do pólo que estão fora da influência direta dos três grandes rios amazonenses. Situado as margens da rodovia BR 174 que liga Manaus à Boa Vista (RR), e distante dista 107 km da capital. Presidente Figueiredo tem como atrativos rios encachoeirados, cavernas e sítios arqueológicos. Os demais municípios – Silves, Manacapuru, Careiro da Várzea, Iranduba e Itacoatiara – acolhem unidades de conservação em seus territórios, como lagos, rios e igarapés de grande beleza.

Além dos atrativos naturais, o Amazonas exerce culturalmente, enorme fascínio e encanto em função das inúmeras lendas e mitos oriundos de seus habitantes indígenas. Representa ainda a maior congregação da diversidade étnica do país e conseqüentemente a lingüística, perfazendo aproximadamente 300 etnias distintas, inclusive com grupos ainda sem contato com a civilização.

Como chegar – O aeroporto internacional de Manaus recebe diariamente uma média de 50 vôos, provenientes de várias capitais brasileiras e do exterior. O tempo de duração do vôo entre Brasília e Manaus é de aproximadamente 3 horas. A capital recebe também barcos e navios vindos procedentes de cidades da região e de diversos países. Embora as cidades os municípios que integram o Pólo Ecoturístico do Amazonas sejam servida por empresas aéreas regionais, o transporte fluvial é a modalidade predominante. No entanto, Manacapuru, Rio Preto da Eva, Presidente Figueiredo e Itacoatiara tem seu acesso facilitado por rodovias federal e estadual. Podem ser alcançadas por estradas que partem de Manaus.

Água Azul, a maneira correta de purificar o corpo

O corpo humano é uma criação maravilhosa, com um balanceamento químico muito sensível, principalmente em se tratando entre o estado ácido e alcalino do nosso corpo. Quando esse balanceamento pende para o lado alcalino, o corpo fica cheio de energia e o sistema imunológico fica blindado, livrando-se de gorduras e toxinas com muita rapidez e facilidade. A pele, os ossos e as células, se regeneram rapidamente, mantendo o corpo cheio de jovialidade, alegre e forte.

A dieta moderna é completamente ácida, o que significa que ganhamos e a acumulamos com muita facilidade; envelhecemos muito mais rápido do que devíamos; contraímos doenças e viroses; e sentimos falta de energia. Porque tudo isso? Porque estamos pendendo para o lado ácido devido a dieta que consiste, principalmente, de frituras, açúcares, refrigerantes, comida processada, café, pães brancos, carnes vermelhas, cigarros, álcool, drogas e fármacos, que produzem acidulantes artificiais e stress.

Por causa disso, uma boa parte da população sofre com doenças degenerativas, apesar da atual ciência avançada, que promete cura imediata. Entretanto, mais e mais pessoas ficam doentes cada vez mais jovens, em especial os consumidores da lista acima, causadora da acidez corporal. O que fazer então para balancear corretamente o corpo entre o estado ácido e alcalino? Sabemos que o ser humano foi projetado naturalmente para ser alcalino e que para atingir este nível saudável, o pH (Potencial Hidrogeniônico) do corpo deve estar entre 7,3 e 7,45, que significa estar alcalino. Nesse estado, o corpo se mantém energizado e as doenças praticamente não existem, pois com as células energizadas, o corpo consegue reparar a si mesmo, livrando-se das gorduras e toxinas com extrema rapidez e eficiência. O câncer não sobrevive em ambiente alcalino.

Quando atingimos um estado de acidose, o corpo tenta se reverter para tornar-se alcalino. Isso pode até soar bem, mas é justamente aí que começam os problemas, pois é o lado bom que converte os ácidos em gordura sólida e os armazena para prevenir a acidose. O ruim quando o corpo já está ácido, por isso o processo de eliminação da nova gordura acumulada não acorrerá, pois o corpo está ácido e não tem vigor para livrar-se de gorduras e toxinas, não importando quão forte seja. Além de engordar, a pessoa ficará estressada, com as tentativas inúteis do seu sistema para livrar-se de todo esse lixo orgânico.

Temos tampões no corpo irão roubar cálcio dos ossos e dentes na tentativa de alcalinizar o sangue, visto que o cálcio é um mineral alcalino. Os ossos e dentes ficarão então fracos e pode desenvolver osteoporose e artrite por falta do cálcio. Esse processo é uma das principais causas das pessoas diminuírem de tamanho enquanto envelhecem muito mais rápido do que deviam, é o chamado envelhecimento precoce. E como se tudo isso não bastasse, a acidose contamina o sangue, sendo um completo desastre para a saúde.

Pensemos que seu corpo seja um aquário e os peixes dele são as células do seu sangue. Todo aquário precisa de um filtro para manter a água limpa. Se esse filtro é desligado, ou pára de funcionar por algum problema, a água vai ficar suja, o nível de oxigênio vai cair drasticamente e fungos e algas vão aparecer imediatamente, que farão os peixes ficar doentes e, eventualmente, mortos. Se essa é condição do nosso aquário pessoal, como poderemos proceder? Tratar os peixes com medicamentos ou simplesmente trocar a água e colocar o filtro para funcionar novamente.

Assim como no aquário, o balanceamento químico do nosso sangue é crítico para a manutenção da nossa saúde. As células vermelhas do nosso sangue levam nutrientes e oxigênio para os tecidos, além de coletar toxinas e dióxido de carbono. Quando a pessoa adentra para o lado ácido do balanceamento químico, as células vermelhas perdem suas cargas, e, assim, ao contrário de se repelirem, se atraem, empilhando-se como se fosse uma moeda em cima da outra. Nesse estado, a velocidade das células diminui consideravelmente e elas já não podem mais cumprir com eficácia seu trabalho, não tendo como eliminar as toxinas do corpo.

Como então fazer para entrar e ficar no lado alcalino desse balanceamento tão rigoroso? A resposta não poderia ser mais simples: tome água alcalina. Água é uma substância divina, indispensável para a nossa vida física. Quando nascemos possuímos quase 80 % de nosso peso constituído de água e quando envelhecemos possuímos apenas cerca de 40 % de água no corpo, mostrando uma contínua desidratação dos tecidos (das células) com o decorrer do tempo, muitas vezes devido modo errado de vida que levamos. Se a percentagem de água vai diminuindo, qual é a substância que vai aumentando sua porcentagem com o avançar da idade? São as substâncias ácidas! A ciência comprova que os fluidos do corpo humano, para seu bom funcionamento, devem ser alcalinos (ou básicos), correspondendo a um índice de pH um pouco acima de 7,0.

O acúmulo de substâncias ácidas serve de alimento para todos os microorganismos patogênicos em nosso corpo físico (bactérias, bacilos, fungos, vírus, vibriões, amebas, etc.). Alguns desses microorganismos parasitas podem crescer até tamanhos enormes, como lombrigas, solitárias, tênias, etc. Portanto, um modo errado de viver leva a três eventos concomitantes: desidratação, acidez e surgimento de microorganismos parasitas patogênicos! Todos os três sintomas serão eliminados se conseguirmos hidratar adequadamente as células do nosso corpo físico.

A água alcalina se tornou a forma mais recente para reforçar o seu bem-estar geral, bastando a elevação do pH do precioso liquido para se obter benefícios adicionais para aumentar o sistema imunológico. Muitos acreditam que a medicina alternativa cura muitas doenças e que outras enfermidades do corpo podem ser aliviados apenas através do aumento da alcalinidade corpórea, sendo a água alcalina uma excelente maneira de parar o cancro e outras doenças degenerativas, incluindo câncer, diabetes e artrite.

O simples hábito de beber quantidades ideais de água de boa qualidade desempenha papel fundamental na manutenção da saúde. É muito importante melhorar a qualidade da água que bebemos, tornando-a alcalina para desenvolver suas propriedades terapêuticas. No mínimo, devemos tomar 6 a 10 copos (250 ml) de água alcalina durante o dia, recomendando que a maior parte seja bebida de manhã, em jejum, ao acordar, antes de escovar os dentes. Após beber a água, é recomendável saltitar por 2 minutos e/ou fazer auto-massagens na barriga.

Segundo especialistas existem três momentos mais adequados para beber água: de manhã ao levantar-se, meia hora antes das refeições e duas horas depois das refeições. Porém, excetuando-se os horários durante as refeições, qualquer momento é ideal de tomar água. Mas não adianta beber a nossa água normal, pois esta é extremamente ácida, e não vai reverter o quadro de hiperacidez. Para emagrecer com qualidade de vida deve-se consumir água alcalina, pois se for bebida de maneira correta, purifica-se o corpo humano. A água alcalina torna o cólon (intestino) mais efetivo, formando sangue novo, conhecido em termos médicos como “haematopoieses”. Que as dobras da mucosa do cólon e dos intestinos são ativadas pela ingestão de água, é um fato conhecido, assim como se sabe que o sangue fresco é produzido nas dobras da mucosa.

Se o cólon estiver sem acúmulos, então, os nutrientes da comida serão melhor absorvidos e pela ação das dobras na mucosa, estes serão convertidos em sangue fresco. O sangue, por sua vez, deve sofrer um processo de restauração diário, sendo de importância fundamental na cura de doenças e na restauração da saúde.

A desidratação crônica é a causa principal da maioria das enfermidades degenerativas crônicas, sendo uma das características mais danosas para a saúde. Infelizmente a medicina não entende que muitos sintomas são sinais de um corpo reclamando por água. A grande maioria da população ainda não tem consciência de que a água é a melhor medicina natural para um grande número de enfermidades. E como saber se está desidratado? Observar se a boca está seca, se a coloração de sua urina apresentar-se incolor ou ligeiramente amarela. Se a urina estiver escura, será sinal de desidratação e de excesso de dejetos tóxicos ácidos. Café, refrigerantes, álcool, líquidos com açúcar e sucos artificiais não contribuem para nossa necessidade diária de água, pelo contrário, geram mais desidratação e hiperacidez.

Para neutralizar a hiperacidez, o corpo utiliza minerais, predominantemente sódios orgânicos, que tem como fonte principal as frutas e vegetais. O sal marinho (cloreto de sódio) e outros sais minerais não são bons substitutos para repor as reservas de sódio orgânico, devido à baixa biodisponibilidade. Se o corpo não tem reservas adequadas de sódio orgânico, utiliza o cálcio ósseo como segunda opção, produzindo mais osteoporose.

A azia é um sinal de falta de água no trato gastrintestinal superior. O uso de antiácidos e outros medicamentos específicos no tratamento da azia, não corrigem a desidratação e o corpo continua a sofrer pela falta de água, produzindo inflamação crônica do estômago, duodeno, hérnia de hiato e úlceras e, eventualmente, câncer no trato gastrintestinal, incluindo o fígado e pâncreas. Dores que não sejam provocadas por lesões, devem ser interpretadas como sinais de uma redução crônica de água na região onde se localiza o mal. Todos os tipos de dores: dispépticas (gastrite, duodenite, úlcera péptica, etc), artrite reumatóide, dores lombares, dores nas pernas ao andar, enxaqueca e cefaléias e as colites, apresentam evolução favorável com o consumo de água alcalina.

A água alcalina regula todos os sistemas corporais: circulatório, nervoso, locomotor, digestivo, respiratório, urinário, reprodutor e endócrino. Favorece as funções vitais em diversos aspectos. Proporciona maior eficiência no funcionamento do sistema digestivo, tornando melhor a assimilação dos nutrientes na alimentação. Diminui a flatulência (gases intestinais), evitando a distensão abdominal. Hidrata melhor o estômago e intestinos. Ajuda a eliminar e prevenir os cálculos biliares, bem como as náuseas, vômitos e cólicas abdominais. Diminui a viscosidade sanguínea, melhorando a circulação. Regula de forma progressiva e duradoura a pressão arterial. Normaliza os índices de colesterol e uréia. Conserva a elasticidade dos vasos sanguíneos. Previne a trombose e a arteriosclerose. Auxilia de forma efetiva na eliminação e prevenção de cálculos renais (pedras nos rins), tendo inclusive o efeito de dilatar os ureteres.

A água alcalina hidrata profundamente a pele, mantendo-a mais úmida e suave por mais tempo, apresentando melhor permeabilidade dos poros cutâneos, potencializando sua ação protetora. Favorece a cicatrização de ferimentos cutâneos, fortalece as unhas e melhoram o aspecto e brilho dos cabelos. O simples hábito de beber quantidades ideais de água de boa qualidade desempenha papel fundamental na manutenção da saúde. Consumindo água de maneira correta, purifica-se o corpo humano.

 

O PODER DAS PLANTAS E ERVAS MEDICINAIS

As gerações antigas da Amazônia garantem que a vida saudável e a cura dos males podem ser encontradas na floresta. O tratamento da saúde pelas plantas medicinais é uma prática bem ancestral, usada desde tempos pré-históricos na medicina popular dos diversos povos, existindo um grande número de espécies em todo o mundo. Muitas delas, entretanto, são venenosas ou pelo menos levemente tóxicas, devendo ser usadas com cuidado e em doses muito pequenas para se obter o efeito desejado.

Diz-se planta medicinal aquela que contém substâncias bioativas com propriedades terapêuticas, profiláticas ou paliativas. Na medicina atual, a fitoterapia utiliza muitas espécies do reino vegetal e estuda suas propriedades nos laboratórios das empresas farmacêuticas, a fim de isolar as substâncias que lhes conferem qualidades medicinais (princípio ativo) para produzir novos fármacos. A indústria cosmética também procura na flora elementos com propriedades regeneradoras para o fabrico de produtos utilizados na limpeza, conservação ou maquilagem da pele.

Há também aqueles que acreditam nos poderes sobrenaturais dos vegetais, ou valores a eles agregados por alguma divindade, sendo certas doenças originadas de distúrbios causados por entidades místicas, que encontram remédios na puçangaria (pajelança amazônica), que também faz uso de plantas, sementes e raízes silvestres. A puçanga é uma medicação mágica receitada pelos pajés, após consulta aos espíritos com quem trabalham, para curar doenças ou afastar malefícios. A diferença entre os dois casos é que um tem elementos teológicos agregados e outro é puramente medicinal, mas ambos frutos do conhecimento empírico das populações tradicionais, parte dele já assimilado pela ciência médica.

O interesse pelas ervas e plantas da Amazônia com aplicação nas áreas de saúde e cosméticas tem, aliás, crescido a cada dia, pois sua exploração comercial torna-se cada vez mais promissora, inclusive apresentando perspectivas de viabilidade econômica para a região amazônica. Quem afirma isso é o pesquisador Juan Revilla Cárdenas, doutor em Ciências Biológicas, chefe da área de Botânica Econômica do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Ele enfatiza que o segmento tem tudo para crescer e se tornar uma atividade econômica bem lucrativa para a região, desde que se profissionalize o setor.

Mas é no uso tradicional que as qualidades medicinais do reino vegetal amazônico se destacam, conquistando recentemente o campo científico, como objeto de estudo de importantes entidades brasileiras, a exemplo do Instituto Butantã, que levou a São Paulo um afrodescendente do quilombo do Pacoval, em Alenquer, a fim de que ele revelasse em vão o segredo do poderoso antiofídico que tem salvado vidas neste município paraense. Os pretos do Pacoval, como são conhecidos os membros da família Assis, têm realizado verdadeiros milagres com as garrafadas e soros que preparam e que aprenderam de seus ancestrais escravos, inclusive esse cobiçado soro antiofídico.  

A puçangaria ou a pajelança é um traço comum em praticamente todos os municípios da Amazônia. Não há cidade ou povoado que não tenha um curandeiro ou benzedeira capaz de amenizar os males da população mais carente. Até mesmo os mais abastados da sorte valem-se dos dons dessas pessoas místicas, quando não encontram guarida na medicina científica, procurando solução nos remédios da floresta. O próprio Inpa reconhece o potencial das plantas medicinais da Amazônia, produzindo uma lista de cerca de 300 vegetais nativos e introduzidos, pesquisados e catalogados por seu valor para as áreas medicinal, fitoterápica, aromática e de cosméticos, dentre as 25 mil espécies mundialmente conhecidas.

A sacaca, andiroba, unha-de-gato, alfavaca, muirapuama, catuaba, cubiu, camomila, sálvia, aloé-vera, verbena, altéia, prímula, angélica, alfazema, patchuli, jamborandi, babosa, menta, alecrim, jojoba, amor-crescido, bonjuá, calêndula, arnica e hamamelis são algumas das espécies mais utilizadas pela medicina popular amazônica. Há vários outros grupos de vegetais utilizados além dos fitoterápicos e cosméticos, que são os de repelentes, inseticidas, corantes, fibras e complementos alimentares.

A medicina da floresta, que está conquistando os cientistas do mundo inteiro, não é popular apenas para as comunidades amazônidas, cujas receitas são muitas vezes aprendidas com os índios e passadas de pai para filho há gerações. Nas feiras e mercados das cidades, como no Ver-o-Peso, em Belém, e Adolfo Lisboa, em Manaus, existem alas onde as garrafadas, raízes, cascas e folhas secas das plantas da Amazônia são vendidas em separado, misturadas ou em pó. 

Entre os inumeráveis mestres das ervas, um desses que fez reinado em determinadas localidades da Amazônia, está o macapaense Raimundo dos Santos Souza, o popular Sacaca. Como caboclo, desde criança, aprendeu na comunidade a tratar-se com as ervas tradicionais. Ainda menino, teve com o pai os primeiros contatos com as plantas, raízes e cipós, conhecimento ampliado com os pesquisadores estrangeiros que passavam temporadas no Amapá, estudando os recursos naturais da região.

Menino inteligente, curioso e dotado de uma memória invejável, teve seus conhecimentos aumentados sobre as plantas com o decorrer do tempo. Negro, morador do Laguinho, um dos mais tradicionais bairros de Macapá, pelas suas raízes africanas, construiu fama em toda a cidade com a alcunha que o consagrou, Sacaca, e pelos bons resultados alcançados com suas ervas e garrafadas milagrosas. Procurado pela população macapaense, Sacaca tornou-se a esperança de cura de diversas doenças até que veio a falecer em 1999.

A morte de Sacaca foi motivo de luto para toda a população amapaense. Todos o conheciam pela fama de suas milagrosas ervas ou tinham ouvido falar dele. Seu nome tornou-se lenda e se encontra registrado no Museu Sacaca, que guarda sua memória e o acervo de suas experiências acumuladas, que não se perdeu. Sua lista de plantas que curam é enorme e foi usada não só por ele, como por uma grande quantidade de pessoas de origem cabocla e indígena.

 

Conheça o receituário de algumas plantas mais populares:

Alfavaca (banhos e combate ao resfriado);

Alho (pressão alta, resfriado e gases);

Amor-crescido (tratamento de fígado e queda de cabelo);

Andiroba (massagens em lesões, combate inflamações e males na garganta);

Arruda (dor-de-cabeça e mau-olhado);

Barbatimão (estômago e inflamação uterina);

Boldo (derrame, fígado e estômago);

Cana-ficha (rins e infecção urinária);

Capim-marinho (calmante e pressão alta);

Catuaba (reumatismo e impotência sexual);

Cheiro-da-mulata (derrame e infarto no miocárdio);

Comida-de-jabuti (pressão alta);

Erva-doce (fígado);

Erva-cidreira (pressão alta e calmante);
Hortelã (gripe, dor-de-cabeça e mal-estar);
Hortelãzinho (cólica infantil);
Manjericão (banhos e combate ao resfriado);
Parirí (anemia);
Pata-de-vaca (diabetes);
Pião-branco (combate a asma e cicatrizante);
Pirarucu (anti-inflamatório e vesícula);
Pracaxí (anti-inflamatório);
Quebra-pedra (pedra nos rins);
Sacaca (anticoncepcional, diurético e anti-diabetes);
Sucuúba (anti-inflamatório uterino e gastrite);
Trevo-roxo (dor de ouvido).

VALOR NUTRITIVO DOS PEIXES DA AMAZÔNIA

 

A diversidade biológica dos ecossistemas e dos peixes encontrados na Amazônia são ímpares em qualquer outra bacia hidrográfica do planeta. Somente em espécies characiformes (que possuem escama), a região detém cerca de 1200 espécies das 1500 existentes no mundo inteiro. Mas apenas 15 espécies locais fazem parte da alimentação do caboclo amazônico. Os peixes, contudo, não são importantes apenas por serem ricos para a dieta alimentar da região.

Eles possuem mecanismos evolutivos e adaptativos aos ambientes regionais pouco ainda explorados, inclusive por ajudar na recuperação de áreas degradadas por meio da dispersão de sementes, conforme informações repassadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) durante a conferência intitulada Peixes da Amazônia: uma mina de ouro biológica, realizada na 59ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Belém.

O poder alimentício dos peixes da Amazônia também é alto e merece destaque no estudo que neles mostram a presença de minerais como cálcio, ferro, zinco, sódio, potássio e selênio, que podem suprir as principais deficiências minerais das populações vulneráveis da Amazônia. O Amazonas é o Estado brasileiro onde há o maior consumo de pescado per capita do país. Segundo o Ministério da Pesca e Aquicultura, o amazonense consome cerca de 35 quilos de peixe por ano, bem maior que a média nacional (7 a 8 quilos). Essa média de consumo destaca os amazonenses no estudo Caracterização Nutricional de Peixes da Amazônia, realizado pelo pesquisador do Inpa, Rogério de Jesus, que traçou o perfil nutricional das espécies através da sua composição química básica, minerais, ácidos graxos e aminoácidos.

A pesquisa mostra que a carne de diversos peixes da região possui elevados níveis de proteína, sais minerais e ácidos graxos para uma dieta saudável e balanceada, sendo o pacu, jaraqui, branquinha, curimatã, pirapitinga, aracu e mapará, como as espécies mais estudadas. Rogério de Jesus garante que todas as espécies são capazes de atender às recomendações diárias, mesmo para um adulto, acrescentado que a maioria dos peixes apresenta concentrações de proteína entre 18 e 20 gramas para cada 100 gramas de carne.

Segundo o pesquisador, os perfis de aminoácidos observados sugerem um alto valor biológico das proteínas nas espécies analisadas. “São proteínas nobres, de alto valor nutricional”, afirma. A concentração de lipídios (gordura) variou entre 1,4 e 3,1 gramas por 100 gramas de carne. O mapará foi a única espécie estudada que se diferenciou das demais, com concentrações de gordura mais altas (21g/100g) e menor valor protéico (11g/100g). Minerais prejudiciais, como mercúrio, arsênio e cromo, nele ocorreram em níveis bem abaixo do limite máximo recomendado para pescado.

Também foram observadas no estudo altas concentrações de ácido palmítico (19,8 a 31,8%), e ácido oléico ou ômega 9 (17,0 a 53,9%), fundamentais para o metabolismo humano, pois atuam na síntese de hormônios e na absorção de vitaminas.

O Inpa é parceiro da Embrapa e de diversas outras instituições no projeto Rede Aquabrasil - Bases Tecnológicas para o Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura no Brasil. A iniciativa, liderada pela pesquisadora Emiko Resende, da Embrapa Pantanal (Corumbá-MS), pretende desenvolver tecnologias inovadoras para a promoção de um grande salto tecnológico capaz de promover a sustentabilidade da aquicultura brasileira, do ponto de vista econômico, social e ambiental.

Outra importante descoberta foi a ocorrência de ácidos linoléico e linolênico em concentrações similares às dos peixes marinhos brasileiros. O ácido linoléico foi estudado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) e apresenta efeitos importantes no metabolismo das gorduras do corpo. Já o ácido linolênico auxilia no sistema imune e reprodutivo e no metabolismo do colesterol, entre outras qualidades.

Baseado em constatações científicas, comer peixe é, portanto, saboroso e saudável, mas a grande variedade estrutural das formas de vida nos mais diversos níveis da região merecem cuidados especiais, tanto genético quanto populacional das espécies e dos ecossistemas da Amazônia que necessitam pesquisas. Entender os processos ecológicos e geológicos, os quais interagiram ao longo dos séculos e determinaram as qualidades específicas de cada espécie são responsabilidades que pesam ao Brasil, sobretudo aos amazônidas.

Os cientistas realçam que, antes da formação dos Andes, a Amazônia se comunicava com o oceano Pacífico, o que possibilitou que animais oriundos do oceano se adaptassem a ambientes de água doce, a exemplo da arraia. É possível que sejam descobertas mais espécies de peixes na Amazônia, porém com mais investimentos em fixação de recursos humanos e infraestrutura, pois a grande variedade e características entre as espécies se deve, em parte, pelo tamanho da Amazônia, que ocupa 60% do território nacional. Por outro lado, a formulação das políticas públicas para se determinar o tamanho das unidades de conservação merecem uma atenção especial da sociedade civil e do governo brasileiro.